
Resumo Webinar – Algas e inovação alimentar
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- Agosto 17, 2020
No passado dia 22 de julho de 2020, o projeto ValorMar levou a cabo a primeira de uma série de sessões online (webinars) de apresentação alargada dos resultados intermédios do projeto. Neste webinar contou-se com a presença de 128 participantes de diversas instituições, universidades e empresas nacionais e internacionais.
O primeiro webinar deu a conhecer as características e benefícios das algas, explicando de que modo estes recursos marinhos estão a ser valorizados num dos eixos de desenvolvimento do projeto, dentro do PPS1, através da formulação de produtos alimentares inovadores.
Sumarizamos de seguida os conteúdos da sessão:
Apresentação do projeto ValorMar
Ana Gomes, professora associada da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, apresentou de forma sumarizada o projeto ValorMar. O projeto, pretende responder às prioridades e estratégias delineadas no domínio prioritário da Economia do Mar, propondo 4 ações de I&DT aplicadas ao mercado e uma de disseminação e divulgação, contribuindo para uma cadeia de valor mais forte e competitiva.
Integra um consórcio nacional multidisciplinar, coeso e cooperante de 17 empresas e 13 entidades do sistema de I&D, com ampla abrangência geográfica.
Recorrendo a sinergias intra- e multisetoriais e ao desenvolvimento de conhecimento, o projeto ValorMar, tem contribuído para a valorização e uso eficiente de recursos marinhos, incluindo algas, plantas halófitas e pescado, através da integração das cadeias de valor, articulando: aquacultura, indústria alimentar, biomédica e cosmética.
Enquanto primeiro webinar, focou-se a ação 1 do projeto, cujo objetivo é a I&D de novos produtos alimentares a partir de recursos marinhos saudáveis, seguros, de elevada qualidade e de produção sustentável, explorando em específico as macro e microalgas.
Algas – Fonte de Nutrição e Saúde
Paulo Nova, investigador assistente na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, explicou que as algas se desenvolvem por adaptação a condições ambientais adversas como: temperaturas extremas, alta salinidade, variabilidade de nutrientes, sol intenso, entre outros. Esta exposição e adaptação leva à produção de metabolitos de elevado valor nutricional e biológico.
A produção destes organismos é mais sustentável que a agricultura tradicional sendo apenas necessário o recurso a CO2, luz solar e pequenas quantidades de água, e podendo ocupar uma menor área.
No que toca à sua composição, as algas são uma excelente fonte de polissacarídeos, vitaminas, minerais, pigmentos, enzimas, proteínas e peptídeos, compostos fenólicos e outros compostos com propriedades protetoras a nível cardiovascular, anti-inflamatório, anti-hipertensivo, antioxidante, anticoagulante, antiproliferativo e antidiabético, constituindo recursos naturais de elevado interesse para aplicações pela indústria alimentar, farmacêutica e biotecnológica.
Tendências de mercado – Posicionamento das algas
Margarida Costa, investigadora pós-doutoramento na Allmicroalgae apresentou dados sobre o mercado global das algas, referindo que se encontra em franco crescimento. No que toca às microalgas, este foi avaliado em 3000 milhões de USD em 2019, esperando-se um crescimento anual de 2.9% até 2024. No caso das macroalgas, o mercado é mais maduro, sendo avaliado em 14.1 biliões de USD e crescerá 8.4% até 2023. Os produtos resultantes destes organismos podem ser aplicados a diversos mercados, como ingredientes em bruto, bioestimulantes, cosmética, alimentação animal e humana, alimentos funcionais e indústria farmacêutica.
Os produtos alimentares baseados nestas biomassas tentam dar resposta à procura de um consumidor preocupado com a sua saúde, e com estilo de vida próprio. O consumidor é cada vez mais informado, portanto, as indústrias têm que ser capazes de acompanhar essa informação e inovar com base nela.
Inovação Alimentar – As propostas do projeto ValorMar
Ana Machado Silva, gestora de projetos na Sonae MC, explicou que, como ponto de partida para o processo de desenvolvimento, os parceiros do projeto identificaram 3 grandes tendências no comportamento dos consumidores:
- Conveniência – a preferência pela facilidade e conveniência na alimentação (tanto nos produtos em si, como nas formas de confecionar)
- “Natural” – a procura crescente por produtos orgânicos e sustentavelmente produzidos
- Bem-estar e saúde – a procura por versões mais saudáveis dos produtos convencionais
Estas tendências, bem como o estudo aprofundado dos benefícios e características de algas e outros recursos marinhos, nortearam o desenvolvimento de novos produtos alimentares, com preferência por formulações clean label, com alegações de base científica e privilegiando ingredientes sustentáveis de origem nacional. Os protótipos podem ser agrupados em 3 grandes categorias: Refeições prontas a comer e sopas, Snacks, e Patés e Bases.
Os protótipos desenvolvidos encontram-se agora em fase de validação laboratorial e pré-industrial, enquanto o consórcio trabalha paralelamente no estudo de viabilidade económica dos mesmos e no desenho de uma estratégia de comercialização no pós-projeto.
Seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas na qual os participantes puderam esclarecer dúvidas ou aprofundar o conhecimento sobre as algas ou o projeto ValorMar. Partilhamos alguns exemplos de questões:
Como é que se pode conferir funções de conservação aos alimentos através das algas?
Ana Gomes – “Nas diferentes algas encontramos compostos que podem ser extraídos com atividade quer antimicrobiana quer antioxidante, que no seu conjunto poderão contribuir para a conservação do produto tanto do ponto de vista da segurança como da qualidade, minimizando por exemplo os processos de oxidação que podem ocorrer naturalmente durante o tempo de prateleira do produto.
No projeto, estamos a trabalhar preparados de peixe fresco e pescado fumado no sentido de testar, avaliar e validar a ação de alguns desses compostos na preservação e conservação dos produtos. Estamos também a pegar em polissacáridos de algas, e estamos a trabalhar revestimentos edíveis, que podem ou não incorporar os compostos anteriormente mencionados, mas que por si só já funcionam como revestimento que preserva o alimento contra por exemplo: perdas de teor de água, alterações da cor, e desenvolvimento microbiano, o que poderá ser potenciado por sinergia com tecnologias emergentes, como é o caso da alta pressão.”
Para o processamento e extração de compostos das algas, existe algum obstáculo?
Margarida Costa – “A tecnologia está desenvolvida para esse efeito, sendo a alta pressão um exemplo com imenso potencial, com a qual se consegue extrair uma grande quantidade de compostos. No entanto, o processamento de extração eleva bastante o preço do composto final. Dando o exemplo da astaxantina, estamos a falar de 150€/g, enquanto em termos de biomassa, conseguimos fornecer o mesmo composto, associado a outros, bem como a macro e micronutrientes, mas por um preço muito mais reduzido. Isto dependerá também das quantidades necessárias a nível industrial e quanto se está disposto a investir. A extração é relativamente fácil, portanto o maior obstáculo será o preço acrescido.”
Quais os principais resultados do projeto ValorMar?
Ana Machado Silva – “Vamos ter um conjunto de novos produtos alimentares, mas também se pretende o explorar de novas tecnologias para processamento e conservação de alimentos e o provar da sua validade. Estamos também a trabalhar o tema das embalagens, a garantia da conservação do produto e a sua funcionalização, associando o conceito de conveniência do produto. Num pós-projeto, é expectável que possam surgir no mercado produtos alimentares inovadores e novas tecnologias que possam estar à disposição da cadeia de valor que trabalha recursos marinhos, isto no stream que foi tratado neste webinar.
Sairão também um conjunto de outros resultados, trabalhados noutros streams do projeto, pois são tratados temas como tecnologias para otimização no que toca a aquacultura, plataformas facilitadoras da rastreabilidade de pescado, soluções tecnológicas para áreas que não a alimentação humana, pois o projeto como um todo tem uma vasta área de atuação. De forma a acompanhar e conhecer melhor todos os pontos de atuação do projeto e respetivos resultados, sugere-se que fiquem atentos às comunicações e futuros webinars.”
Margarida Costa – “Deste projeto resulta também a colaboração bem-sucedida entre unidades de I&D e empresas, pelo conciliar entre desenvolvimento científico e aplicação prática desses resultados, para concretização de produtos finais com valor acrescido.”
As apresentações deste primeiro webinar podem ser consultadas aqui.
Esteja atento a futuras apresentações online do projeto ValorMar.